Publicado em: 5 de abril de 2023

Apartamentos garden valorizam no pós-pandemia e viram raridade no mercado imobiliário

Unidades com área privativa aberta são procuradas por quem quer se sentir morando em casa, mas com segurança de condomínio, apontam construtoras e incorporadoras

Apartamentos garden não são novidade no mercado, mas, com a pandemia, passaram a ser mais procurados. Construtoras e incorporadoras afirmam ter notado uma busca maior por essas unidades com área privativa (geralmente no térreo ou nos primeiros andares dos edifícios), que dão ao dono do imóvel a sensação de que estaria morando em uma casa com quintal – porém com a segurança que um condomínio oferece.

“O garden existe há muitos anos, mas não era tão valorizado antes da pandemia. Cada vez mais vem se tornando o objeto de desejo dos paulistanos. Quando você pode fazer home office, sente a necessidade de estar em um ambiente mais verde, com mais sol e muito mais horizonte. Atualmente têm sido as primeiras unidades a serem vendidas nos lançamentos”, conta o CEO da YEES! Incorporadora, Rodrigo Milan, à Casa Vogue.

Felipe Antunes, sócio da Next Realty, também observa que, embora já consolidados no mercado imobiliário, os apartamentos garden ganharam destaque e foram mais procurados na pandemia. “As pessoas passaram a ficar mais tempo dentro de casa, e essas unidades possibilitaram uma melhor qualidade de vida com a utilização da área externa, luminosidade natural e contato com a natureza”, afirma.

“Tempos atrás esse tipo de imóvel era deixado de lado e pouco valorizado. Hoje quem mora em condomínio sabe que as áreas de lazer coletivas possuem usos específicos para facilitar a boa convivência. Já no apartamento garden, você pode aproveitar o espaço que tem a mais para o que quiser”, concorda Eduardo Luiz, CEO da Epar (player que faz gestão de obras e imobiliárias), apontando uma das vantagens dessas unidades.

A arquiteta Cristiane Schiavoni, que desenvolveu projetos do tipo, percebeu a tendência. “Uma coisa muito procurada na pandemia foi justamente ter um espaço de descompressão. Meus clientes falavam: ‘quero poder enxergar o céu’. Foi a válvula de escape. As unidades que existem no mercado são disputadas ‘a tapa'”, conta.

É dela o projeto do apartamento garden do médico Mário José Mello Martins, no segundo andar de um edifício no Brooklin, em São Paulo. Parte dos 150 m² do garden foi coberta, ganhando jacuzzi e sala de TV, enquanto a parte descoberta abriga um jardim.

“Queria um ambiente em que eu pudesse me sentir dentro de uma casa, com um espaço como um quintal, um jardim, vivendo numa cidade grande com tranquilidade para receber os amigos. Não fico fechado em um quadrado, tenho um local para tomar sol. Estar neste apartamento durante a pandemia foi mais tranquilo. Ter uma visão externa ajudou na saúde mental“, afirma Mário.

Uma das desvantagens desse tipo de unidade são objetos que caem ou são jogados pelos vizinhos de outros andares. Mas o assunto foi resolvido com conversa, conta Mário. “No início tinha esse problema de cair coisas, é de cultura. Com as comunicações do síndico pedindo para evitar, foi mudando”.

Quem procura?

A arquiteta diz que o perfil de morador atrás desse tipo de imóvel é variado. “Já tive casal de idosos que morava em casa grande que dava trabalho para cuidar sem abrir mão do conforto, e trocou pelo apartamento garden. E também família grande que queria um espaço com cara de casa para a criança andar de bicicleta. Vai do momento da vida”.

As construtoras e incorporadoras notaram o aumento na busca, apontando famílias com crianças pequenas ou animais de estimação, idosos que preferem não ter de utilizar escada nem elevador, além de pessoas que gostam de receber amigos e familiares como os principais compradores.

Clarissa Grinstein, gerente de projetos da Mozak, especializada em empreendimentos de alto padrão no Rio de Janeiro, enumera as possibilidades que um apartamento garden oferece. “O morador usufrui de um terraço, que pode se desdobrar em espaços com funções diferentes como: SPA, bancada gourmet e churrasqueira, uma área para crianças brincarem com mais espaço ou o que mais o cliente imaginar”.

Valorização

“O garden valoriza os primeiros andares de apartamentos que normalmente apresentariam um valor de venda menor. Seu preço final, porém, varia muito conforme o tamanho da área oferecida na planta final. Em geral, ele custa pelo menos 20% a mais do que custaria um apartamento convencional”, explica o diretor Institucional e de Atendimento da Lopes Consultoria de Imóveis, Cyro Naufel.

“A demanda por apartamentos com área externa privativa tem crescido em todo o país nos últimos anos, impulsionada pela busca por mais conforto, privacidade e qualidade de vida. A valorização é mais ou menos parecida com a de uma cobertura‘, diz Silvana Dorta, sócia-fundadora da Jardins & Co.

Eduardo, da Epar, lembra que existia uma latência por esse tipo de imóvel, algo que não era percebido pelas construtoras em geral. “Estamos observando que esses espaços valorizaram bastante e são vendidos rapidamente, primeiro do que os ‘apartamentos tipo'”.

Ele recomenda ainda como um bom investimento para quem pretende comprar imóveis para alugar. “Eles alugam muito rápido, são um diferencial para os inquilinos, além de serem mais caros que os apartamentos tipo. Ou seja, o dono do imóvel consegue rentabilizar melhor com esse formato de unidade do que com um imóvel padrão”.

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